Reverter a Perda de Biodiversidade

MEDIDAS

 

A reversão do declínio de muitas espécies silvestres exige um aumento significativo de conhecimento e a implementação de medidas agroambientais que tragam benefícios ecológicos claros e que contrariem os resultados das recentes políticas agrícolas da União Europeia que conduziram à degradação de habitats. Esta reversão da perda de biodiversidade deverá assentar em cinco pilares:

  1. Investigação aplicada que permita colmatar as lacunas de conhecimento sobre as espécies silvestres;
  2. Monitorização demográfica e sanitária longitudinal das espécies, por forma a avaliar o estado das populações e identificar os fatores de declínio, tendo em vista a sua mitigação;
  3. Incremento, restauro e manutenção de habitats de boa qualidade, com água e alimento natural acessíveis e mantidos todo o ano;
  4. Fomento da caça adaptativa às espécies, atendendo a uma exploração sustentável dos recursos animais, o que que implica utilizar o excedente de produção anual em populações estáveis ou em crescimento a nível nacional/internacional;
  5. Desenvolver estratégias de comunicação e cooperação a nível nacional e internacional.

 

O papel da exploração cinegética na reversão da perda de biodiversidade

 

A exploração cinegética e a atividade da caça podem desempenhar um papel crucial na conservação das espécies, quer através de medidas diretas, como gestão de habitat, regulação da pressão cinegética e disponibilização de alimento e água, como indiretamente através do controlo da predação.
A exploração cinegética sustentável não só é determinante no ordenamento do território e na fixação das populações ao mundo rural, como o seu exercício em sistemas de silvo-pastorícia contribui determinantemente quer para a prevenção de incêndios, quer para a manutenção de habitats favoráveis a várias outras espécies silvestres, incluindo as cinegéticas, fomentando a conservação da biodiversidade local.
A atividade cinegética é, assim, considerada um elemento importante de recuperação de habitats e de gestão da fauna silvestre que, respeitando as necessidades ecológicas das espécies e os seus equilíbrios biológicos, potencia o desenvolvimento socioeconómico do meio rural e a conservação da biodiversidade.

 

Conhecer para Proteger

 

A monitorização contínua e sistemática das populações animais é primordial para avaliar a sua sustentabilidade e para adequar e adaptar medidas de gestão.
É, ainda, imprescindível aumentar o conhecimento sobre as populações sedentárias e as populações migratórias acolhidas todos os anos nos nossos territórios, nomeadamente para identificar claramente os fatores de declínio e as ameaças que as diferentes espécies enfrentam, para que os possamos progressivamente mitigar.
Estes esforços a nível local, regional e nacional deverão ser articulados com os esforços desenvolvidos à escala internacional, nomeadamente através da implementação de ações harmonizadas no terreno e da partilha de informações e resultados de monitorização/investigação. Devemos também aproveitar melhor o ato de caça para a recolha de informação, para a consolidação de conhecimento.

 

Respeitar para Defender

 

O conhecimento e integral cumprimento do período venatório das espécies cinegéticas são essenciais para a promoção de tendências demográficas positivas das populações naturais, uma vez que este período é estabelecido em função dos ritmos biológicos das espécies e tem em conta aspetos essenciais, nomeadamente a reprodução as épocas de acasalamento, reprodução e aleitamento. O número previsto de jornadas de caça e os limites diários de abate devem ser rigorosamente definidos, respeitados e adequadamente divulgados.
É fundamental na estratégia de recuperação de espécies silvestres e de compromisso no espaço natural, social, e político, exigida nos dias de hoje, que o caçador exerça a caça de forma sustentável e adaptativa. Hoje, perante as condições ecológicas existentes e perante as pressões sociais num mundo altamente mediatizado, ser caçador ou gestor cinegético obriga a compromisso, esforço de autorregulação e ética. É através da ética cinegética coerente e consistente que se poderá consolidar junto da sociedade-civil uma opinião favorável à caça e ao caçador.

 

O papel das Organizações do Setor da Caça

 

As organizações do setor da caça, os clubes de caçadores, os proprietários rurais e as entidades gestoras das zonas de caça devem incentivar o papel do caçador na conservação da natureza. Todas as entidades relacionadas com a atividade cinegética, de cariz particular, coletivo ou associativo, devem exercer, e exigir que seja exercido, de forma responsável e ética o ato cinegético e as suas atividades conexas. Devem, ainda, divulgar de forma clara e eficaz os efeitos positivos que resultam das suas ações, de forma a contribuir para um conhecimento societal mais amplo e realista dos valores históricos, culturais, sociais, económicos e ecológicos da caça e da gestão cinegética.
Comportamentos inadequados e, ilegais, e furtivos, e práticas agrícolas e cinegéticas prejudiciais à qualidade dos habitats e à manutenção das populações silvestres, incluindo as espécies cinegéticas e as espécies com estatuto de conservação, devem ser desencorajados e, quando aplicável, denunciados.

 

O papel das entidades do Estado e da Academia

 

As entidades da administração do Estado com responsabilidades e competências em matéria de recursos cinegéticos, ambiente, sanidade e diagnóstico laboratorial, e os institutos académicos e de investigação que desenvolvem trabalho relevante em espécies cinegéticas, devem ser vistos como parceiros efetivos nas mais variadas diferentes atividades relacionadas com o mundo da caça. Estas entidades reúnem o potencial de gerar conhecimento técnico-científico sobre as espécies cinegéticas e, em estreita articulação com as organizações do setor e com os caçadores, gestores, guarda-florestais, apoiar e ajudar no terreno a reverter as tendências de declínio e a mitigar os fatores de ameaça que assolam várias espécies de caça menor.