PERGUNTAS E RESPOSTAS
A ordenação cinegética dos territórios contribui para a proteção da natureza?
Para além das questões de ordenamento territorial, a gestão de propriedades na perspectiva da vocação cinegética pode ser uma estratégia de especialização e competitividade, um complemento à exploração agrícola, pecuária, ou outra. Organizar a propriedade tendo em vista um adequado sistema de ordenamento e de gestão cinegética pode ser uma importante salvaguarda do capital natural e um passo essencial para a sustentabilidade ambiental.
A exploração dos recursos cinegéticos exercida de forma ética e sustentável favorece efetivamente a gestão de habitats, a conservação da natureza e a preservação da biodiversidade. E uma gestão cinegética continuada, assente na monitorização, no conhecimento e na responsabilidade ambiental, pode ser determinante para manter ou restituir o equilíbrio das populações. No entanto, caçar e gerir caça e territórios nos dias de hoje implica conhecimento, responsabilidade, investimento e autorregulação de comportamentos.
Quais os efeitos benéficos da caça no controlo de populações?
A desproporcionalidade das abundâncias relativas de algumas espécies pode causar a supressão de efetivos de espécies no limiar da sustentabilidade, devido ao excesso de predação, à competição por recursos, e/ou à transmissão de agentes patogénicos. A sobrepopulação de algumas espécies como o javali pode ainda causar danos agrícolas, prejuízos económicos, acidentes de viação, ou problemas sanitários com repercussões nos animais de produção, e consequentes limitações no acesso aos mercados externos, e/ou consequências na saúde pública.
A proliferação de espécies que excedem a capacidade de carga dos territórios e que causam desequilíbrio ecológico, sem capacidade de autorregulação natural, pode ser corrigida através de atos extraordinários de caça ou ações de correção de densidades. Muitas são as populações que atualmente estão em expansão na Europa, quer de ungulados quer de carnívoros. Manter o controlo da distribuição e da abundância de várias espécies é uma tarefa onde os caçadores podem e devem desempenhar um importante papel.
A caça é sempre sustentável e beneficia sempre a biodiversidade?
Não. A caça e a gestão cinegética não adaptativas, que não ajustam o esforço de caça ao tamanho dos efetivos cinegéticos, que não atendem à produtividade das populações e/ou que desconsideram a necessidade de se manter uma adequada estrutura e composição das comunidades (rácios macho/fêmea, equilíbrio entre grupos de classes etárias e diversidade biológica), podem causar supressões significativas dos efetivos silvestres. As más práticas de gestão, as práticas facilitadoras para aumentar estatísticas de abate, o desrespeito pelos ciclos biológicos, o incumprimento da duração das jornadas e dos limites de abate, e o furtivismo, resultam numa pressão de caça desproporcional e desrespeitam a produtividade natural das espécies e dos ecossistemas.
Deixar de caçar reverteria a perda de biodiversidade?
Ainda que a suspensão temporária ou permanente da caça possa aparentar diminuir os declínios populacionais que se observam nalgumas espécies (por exemplo, no coelho-bravo, na perdiz-vermelha ou rola-comum), deixar de caçar e deixar de gerir territórios na perspectiva da exploração cinegética acentuaria a escassez de recursos naturais atualmente disponíveis para as espécies silvestres (cinegéticas e não cinegéticas). Seriam várias as consequências nos habitats e na disponibilidade de recursos, com diminuição da capacidade de carga dos territórios para populações, quer em termos de alimento e abrigo, quer em termos de locais de reprodução. Aumentaria também a predação sobre as populações vulneráveis, acentuando ainda mais o declínio do seu estado de conservação.
Proibir a caça acentuaria ainda a interioridade dos territórios e das populações mais desfavorecidas, bem como as desigualdades sociais e territoriais. Diminuiria a presença, e por conseguinte a vigilância, dos caçadores no terreno e, portanto, a possibilidade de identificação precoce dos incêndios que também causam perdas de biodiversidade local.
Como é que a caça contribui para o aumento do conhecimento?
A caça é uma ferramenta de gestão da vida selvagem, ajudando a equilibrar as populações de animais, propiciando oportunidades de monitorização, conhecimento e intervenção.
Ter caçadores e gestores no campo é ter uma oportunidade para a monitorização das espécies, para a recolha de dados biométricos, para a recolha de indícios de presença, para a colheita não invasiva ou post-mortem de material biológico, útil para análises genéticas, forenses e sanitárias, para a deteção precoce de surtos infeciosos ou eventos de mortalidade. É ainda importante no primeiro reconhecimento da presença de espécies invasoras.
Em muitos países do Norte e Leste da Europa, os caçadores representam a espinha dorsal de programas de monitorização vastos que permitem avaliar tendências e dinâmica de populações ou caracterizar padrões de movimentação. No entanto, o enorme esforço que muitas vezes os caçadores investem na contribuição para estes estudos é pouco valorizado.
A parceria entre caçadores, gestores e cientistas é uma aliança de inestimável valor.
Como é que a exploração cinegética fomenta alimento e abrigo para as espécies silvestres?
A gestão cinegética que prevê o fomento e disponibilização de alimento natural para as espécies de caça mantém técnicas agrícolas tradicionais, instala culturas para a fauna, reforça planícies com pastagens de cereais ou culturas arvenses de sequeiro e/ou com faixas de leguminosas. A manutenção de faixas de vegetação autóctones, os desmatamentos, a implementação de zonas de pastagens em áreas de predominância de matagal e o incremento de ecótonos são medidas de gestão determinantes, não só na criação de condições de habitat mais favoráveis às espécies cinegéticas em declínio, como também beneficiam outras espécies silvestres e são essenciais para a prevenção dos incêndios florestais.
A suplementação das zonas de caça com comedouros e bebedouros artificiais, quando os pontos de alimentação e de abeberamento naturais são insuficientes ou inexistentes, pode ser determinante em períodos de escassez e beneficia tanto espécies cinegéticas, como outras espécies silvestres.
Qual a utilidade da caça seletiva?
A caça seletiva que visa uma adequada estrutura e composição das populações (rácios macho/fêmea, equilíbrio entre grupos de classes etárias e diversidade biológica) e a remoção de animais doentes ou menos aptos é imprescindível à manutenção de populações saudáveis.
O controlo de predadores é imprescindível?
Os predadores, como a raposa e o sacarrabos, e as espécies necrófagas são frequentemente perseguidos pelos efeitos negativos exercidos sobre a propriedade, sobre as espécies de produção e pela potencial ameaça que representam ao bem estar humano, recebendo pouco reconhecimento pelos seus benefícios. No entanto, são muitos os estudos que têm demonstrado que estas espécies desempenham importantes papéis regulatórios nos ecossistemas, incluindo a regulação de populações de herbívoros e de micromamíferos (como os roedores), que, por sua vez, afetam os sistemas vegetais, a microcomposição do solo e os sistemas hidrológicos. Os benefícios exercidos pelos predadores e pelas espécies necrófagas podem ser de grande alcance, através de maiores conversões na produção agrícola, mitigação de doenças, e remoção de restos de matéria orgânica.
No entanto, a desproporcionalidade das abundâncias relativas de algumas espécies de predadores pode causar a extinção local de efetivos de outras espécies no limiar da sustentabilidade, devido ao excesso de predação. Pelo que, em estrito cumprimento da lei, podem ser solicitadas pelas entidades gestoras das zonas de caça credenciais para ações de correção de densidades de predadores, mediante a utilização de meios devidamente autorizados para o efeito.
Há, no entanto, que balancear o controlo direto e indireto da predação, indispensável a uma correta gestão de populações e gestão cinegética, e a manutenção de comunidades de carnívoros equilibradas que possam exercer importantes serviços de ecossistemas, com destaque para a remoção de animais doentes ou menos aptos e a eliminação de cadáveres.